"Somente Ele é a rocha que me salva; Ele é a minha torre segura! Jamais serei abalado! "Sl 62:2

segunda-feira, 5 de março de 2012

A preparação do culto - parte I

Precisamos entender que o culto não começa na oração de abertura, mas em nossa casa, bem antes da reunião

“Tendo Jesus entrado no templo, expulsou a todos os que ali vendiam e compravam; também derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada Casa de Oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores.” (Mateus 21:12,13.)

Neste texto vemos Jesus agindo de uma forma singular. Em todos os evangelhos vemos a figura do Cristo misericordioso, amoroso, compassivo, e aqui temos uma atitude tão drástica e enérgica que até parece destoar do resto de seus atos. Não que tenha sido errada ou exagerada, foi precisa e perfeita, como perfeito sempre foi nosso Senhor. Mas bater com um chicote, virar as mesas com mercadorias e dinheiro, espalhar animais, e fazer tudo com tamanha autoridade à qual ninguém se opôs, mostra o valor que tem diante de Deus o princípio que os judeus estavam violando. E isto deve chamar nossa atenção. Jesus deparou-se com muitos erros e pecados nos dias de seu ministério terreno, mas este parece ter sido um dos mais duramente repreendido. Portanto, há uma séria e importante lição a ser aprendida neste relato. Há um erro grave a ser evitado, e convido-o a refletir comigo nos princípios bíblicos por trás desta porção das Escrituras.

Durante muito tempo achei que o problema aqui era o comércio em si, mas quando examinamos o texto em seus detalhes, a acusação de Jesus contra aqueles homens parece ter dois enfoques principais:

1. Uma distorção do propósito divino para sua casa – ser um ambiente de relacionamento genuíno com Deus (casa de oração).
2. O roubo de alguma coisa – uma vez que Jesus os chamou de ladrões.

Pense nesta frase de Jesus: “...vós a transformastes num covil de LADRÕES”. O que está em questão aqui não é necessariamente o ato de comercializar em si, mas o que ele significava. O Senhor não estava repreendendo a ganância, nem tampouco os chamou de mercenários. A acusação não era contra ganhar dinheiro. Aqueles comerciantes tinham o respaldo das autoridades do templo e não estavam violando nenhuma das rígidas leis judaicas ou mesmo as romanas. Portanto, é certo reconhecer que o roubo de que Cristo falava não era algo no reino natural, mas sim no espiritual. Tenho certeza que o roubo não era o “preço” pelo qual se vendia, pois se de um lado da barraquinha havia um bom comerciante judeu para vender, do outro lado o comprador também não era diferente, e isto sem falar na concorrência!

O quê, então, aqueles homens poderiam estar roubando?

Precisamos dar uma volta ao Velho Testamento e à compreensão dos princípios da lei mosaica a fim de entender o que estava acontecendo. A Bíblia faz menção de animais sendo comercializados no templo, e esta era a principal mercadoria ali. Mas o que estes animais faziam lá no templo? Qual a razão de estarem sendo mercadejados? Porque o comércio feito ali era principalmente o de animais?

É importante lembrar que o culto do período em que vigorou a Lei de Moisés era baseado nos sacrifícios de animais que se faziam no templo. Esta era a principal ocupação dos sacerdotes, como podemos perceber nos livros de Êxodo e Levítico. Basicamente, o animal mais sacrificado era um cordeiro, embora havia situações em que pudesse ser um bode ou até mesmo um novilho; outros sacrifícios exigiam a presença de aves, e estas eram também aceitas quando o ofertante não tinha posses suficientes para ofertar gado.

A escolha e preparação do animal

Deus esperava que os homens oferecessem a Ele o melhor animal. A palavra sacrifício aponta não só o derramamento de sangue do animal, como também o ato de abrir mão do melhor entre todo o rebanho. Houve períodos na história de Israel em que eles perderam este enfoque e o Senhor os repreendeu: “O filho honra o pai, e o servo ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? Diz o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes, que desprezais meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo, e ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto que pensais: A mesa do Senhor é desprezível. Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; caso terá ele agrado em ti, e te será favorável? Diz o Senhor dos Exércitos.” (Malaquias 1:6-8.)

Deveria haver todo um cuidado na escolha e preparo do animal antes de levá-lo para ser sacrificado. Quando os israelitas começavam a fazer de qualquer jeito, Deus protestava! O animal oferecido, em termos práticos e racionais, era perdido. Deus não o usava para nada e quem o ofereceu ficava sem. Muitos, nunca chegaram a entender que o propósito do sacrifício era justamente cultivar no coração o valor de Deus, como estando acima de todas as outras coisas, mesmo as mais importantes. A entrega do animal em si, não tinha valor algum, mas o que ela significava para a pessoa. Não estamos hoje habituados com a criação de ovelhas, mas os donos se apegavam aos animais. Jesus disse que as ovelhas conhecem a voz do pastor e o seguem, e que este, por sua vez, as chama pelo nome (Jo 10:3). Quando o profeta Natã foi repreender Davi de seu pecado, usou uma parábola para ilustrar o que Davi fizera, e descreveu nesta alegoria como alguém chegava a se apegar a uma ovelha que criava, como sendo um verdadeiro animal de estimação (II Sm 12:3).

A beleza do sacrifício estava no valor que o animal oferecido tinha. Lembra-se do caso de Abraão, a quem Deus pediu seu filho Isaque em sacrifício? Deus não queria nem precisava de Isaque sacrificado, Ele só buscava a atitude correta no coração de Abraão, queria estar em primeiro lugar. Isto agrada o coração do nosso Pai Celeste!

E o que estava acontecendo no templo, nos dias de Jesus era exatamente o oposto. Ninguém mais se preparava para o sacrifício. Simplesmente deixavam para a última hora, quando chegassem no templo e compravam um animal qualquer. O culto perdeu seu significado, pois se tornou mecânico ao perder a sua essência: a preparação.


continua.......

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